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De esfaimados leões menor que a tua:
Meu poder, minhas forças te confio,
Minha tocha invisivel te precede:
Dos impios, dos ingratos, que me offendem,
Na rebelde cerviz o ferro ensopa:
Extermina, destroe, reduz a cinzas
As sacrilegas mãos, que os meus incensos
Dão a frageis metaes, a deuses surdos:
Sepulta as minhas victimas no inferno,
E treme, se a vingança me retardas!…»
Não lh’a retarda o rabido propheta;
Já corre, já vozêa, já diffunde
Pelos brutos, attonitos sequazes
A peste do implacavel fanatismo:
Armam-se, investem, rugem, ferem, matam,
Que sanha! que furor! que atrocidade!
Foge dos corações a natureza;
Os consortes, os paes, as mães, os filhos
Em honra do seu Deus consagram, tingem
Abominosas mãos no parricidio:
Os campos de cadaveres se alastram,
Susurra pela terra o sangue em rios,
Troam no polo altissimos clamores.
Ah! Barbaro impostor, monstro sedento
De crimes, de ais, de lagrimas, d’estragos,
Serena o phrenesi, reprime as garras,
E a torrente de horrores, que derramas,
Para fundar o imperio dos tyrannos,
Para deixar-lhe o feio, o duro exemplo
De opprimir seus eguaes com ferreo jugo;