Ou chuva d’ouro a bella Danae molhas,
Ou touro manso linda Europa roubas.
A face mulheril formosa, e pura
Cobrem de pejo avermelhadas rosas;
Ou dedo juvenil destro as desfolhe,
Ou calido vapor soprando as murche:
Então lasciva, sem rebuço exposta
Facil se entrega, sem temor se arroja:
Então tu, louro Apollo, serás Daphne,
A nympha fugitiva será Phebo.
Apoz o bruto filho de Neptuno
Correrá Galathéa os verdes mares;
Assim foge de Cyrce o grego Ulysses,
Assim foge de Dido o pio Enéas.
Porém, primeiro, subtilmente a inflamma;
Se acaso ardente, devorante fogo
Torrar os bofes, consumir entranhas,
Natura acode com forçoso impulso,
E mais depressa se afugenta o pejo:
Mais depressa o calor do sol derrete
Pallida massa de esfregada cêra;
Mais cedo rompe ariete forçoso
Torres antigas, ruinosos muros.
IV
Se branco rosto, que formoso esmaltam
Preciosos rubís, azues saphiras,
Face morena, que engraçados ornam
Dous pretos olhos, com que as Graças brincam;