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DE AMAR
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Se airoso gesto, movimento lindo,
Se honesto modo, se sisudo termo
Feriu teus olhos no theatro, ou templo,
Eia, mancebo, tens amores, corre!…
Em pé ligeiro te sublima, e ergue;
Da vasta chusma simulado escapa,
Ou destro finjas cerebro revolto,
Ou falso mostres abafado o peito;
Logo modesto dirigindo os olhos
Á branda Tyrse, para os seus repara;
Vê se innocentes ao acaso vagam.
Ou se inquietos com destino giram;
Se por ventura teu rival encontras,
Animo forte, desmaiar não deves;
Mais honrosa será tua victoria,
Tens para o carro triumphal captivo.


V


   Era consorte de vulcano Venus,
Mas dos favores seus é digno Marte;
Com vergonha do sordido ferreiro
Preso nas rêdes fica o deus da guerra;
Quaes no prado mellifluas abelhas
Correm voando d’uma flor em outra,
Nem sobre o casto rosmaninho pousam,
Nem sobre o thymo matinal descançam:
Taes, oh mancebos, mulheris desejos
Correndo vôam de um amor em outro.
Nem destro Ulysses seu correr impede,