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alzira a olinda
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Como de uma boçal, incauta virgem
Uma amante formou tão extremosa!

A agradavel pintura, que bosquejas,
Dos férvidos transportes, que sentiste
Entre os braços do amante afortunado,
Não é, querida Olinda, tão sincera,
Como sincera foi a que traçaste
De ignotas emoções a Amor sujeitas.
Já não te exprimes com egual candura:
Filha da reflexão nova linguagem,
Por artificio mascarada em letras,
Vejo, que annunciar-me antes procura
Após do que se ha feito o que se pensa,
Do que por gradações d′acção o int′resse
Pouco a pouco esmiuçar, dar-me a vêr todo.

Rasga o pudico véo, com que debalde
Aos olhos de uma amiga esconder buscas
Voluptuosas traças, que transluzem
Nas tuas expressões; quando innocente
Menos recato n′ellas inculcavas,
Eu lia com prazer dentro em tua alma
Os sentimentos, que a affectavam todos.
Tenho direito agora a exigir-te
A ingenua confissão d′esses momentos
Preludios do prazer, em que te engolphas.
Quero saber porque impensados lances
D′um amante nos braços te arrojaste;
Como o pudor fugiu, e o que sentiste
Quando abrazada em férvidos desejos
Misturados com dôr indefinivel.