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olinda a alzira

D′alta serra entre as faldas pedregosas,
Ou de invia selva na espessura vasta;
Aqui tropeça, alli se encontra, e bate,
Macera as mãos, o rosto, e tenteando
Um pé lhe escapa, cáe, rola-se o triste,
E n′um barathro crê despedaçar-se;
Eis improvisa luz assoma ao longe;
Attenta o infeliz, toma-a por norte,
E dos p'rigos, que o cercam, se vê salvo:
Taes tuas letras para mim brilharam
Na escuridão fatal, que me envolvia.

Não espaçou Amor ditoso praso
Para no gremio seu a tua Olinda
Bemfasejo acolher. Vira eu Bellino
Passar uma, e mil vezes, attentando
Com interesse em mim, attentei n′elle,
Em seu terno olhar, e meigos gestos;
Vi que um amante o céo me destinava:
Em breve os olhos meus lhe responderam
Ás mudas expressões, que os seus diziam;
Em breve as suas cartas, de amor cheias,
Fizeram dar egual calor ás minhas,
Accendendo os meus férvidos transportes.

N′uma cerrada noute, quando ao somno
Estava tudo entregue, Amor velando
No meu peito, e no seu, a vez primeira
Nos ajuntou em fim: elle exultava
De indizivel prazer: eu me sentia
Na agitação maior de gosto, e susto.
Ao dar-lhe a mão, para o guiar de manso