Eu hei-de amar-te, oh valle, como um filho
Dos sonhos meus. A imagem do deserto
Guarda-la-hei no coração, bem juncto
Com minha fé, meu unico thesouro.
Qual pomposo jardim de verme illustre,
Chamado rei ou nobre, ha-de comtigo
Comparar-se, oh deserto? Aqui não cresce
Em vaso de alabastro a flor captiva,
Ou arvore educada por mão de homem,
Que lhe diga — és escrava» e erga um ferro
E lhe decepe os troncos. Como é livre
A vaga do oceano é livre no ermo
A bonina rasteira e o freixo altivo!
Não lhes diz — nasce aqui, ou lá não cresças»
Humana voz. Se baqueou o freixo,
Deus o mandou: se a flor pendida murcha,
É que o rocío não desceu de noite,
E da vida o Senhor lhe nega a vida.
Céu livre, terra livre, e livre a mente,
Paz intima, e saudade, mas saudade
Que não dóe, que não mirra, e que consola,
São as riquezas do ermo, onde sorriem
Das procellas do mundo os que o deixaram.