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Pelo que já vou crendo no rifão
—Que o Rei da mixta fórma é velhacão.

No tempo antigo o Rei obrava só;
De chanfalho na mão cortava o nó;
E os ministros calados como escudos,
Eram todos do Rei, creados-mudos.
Hôje em dia, porém, mudou-se a scena;
Quebrou-se o ferreo guante, voga a penna;
A penna e a palavra; a lingua lucta,
Soberana domina a força bruta.
O Rei não obra só; pois, na linguagem,
Obra mais do que o Rei a vassalagem.
—Reina o Rei, não governa—é o problema;
—Mas, si reina, governa: eis o dillema!
—Não só reina, governa e administra—
E’ suprema doctrina monarchista.

De outro ponto o ministro não quer meias,
Quer o Rei regulado, um Rei de peias;
E antólha-se—Penelope do dia,
Capaz de refazer a monarchia:
Um Rei feroz não quer, nem Rei tyranno,
Mas um Rei cidadão—republicano !

Clamam outros,—que o Rei de gorro phrygio
O converso não é de São Remigio;
Que monarcha è das turbas—popular,
Monarcha é de entremez, Rei de bazar;
Um monarcha de pilio, sem corôa,
Um Rei sem massa-pão, um Bei atôa!
E, por fim distinguindo ou misturando,
Todos vão no Thesouro manobrando.

Na practica tambem reina a balburdia,
A mania do mando, a mais estúrdia.
O povo presta o voto nos comicios,
Ou aluga o mandato aos seus Phenicios