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Governa ao Parlamento o Ministerio;
Governa á opinião o Presbyterio;
Na provincia governa o Presidente,
O Escriba, o Meirinho, toda a gente;
Governa o mundo velho, o mundo novo,
Um ha que não governa, é o bom povo !...

Mas si este não governa a culpa é sua;
Quem faz ricos palacios, e na rua,
Sem roupa, sem chapéo, de bola ao sol,
Faz papel de lanterna de pharol,
Deve a morte pedir ao Deos clemente,
E ao demonio que o leve de repente.

N’outros tempos o Hei de espada á cinta
A golpes de frambão fazia a finta,
E as leis dictava a tiros de trabuco ;
Mas agora um Paranhos, um Nabuco
São as peças do Rei, do Rei prudente,
Que por taes vias, manda legalmente
A guerra, a peste, a fome, os privilegios,
Romanas decretaes—os sacrilegios,
Os seus golpes de Estado—estellionatos,
E, para o mal curar, os baronatos...

Tudo isto é doctrina democratica,
Que da gente nos vem aristocratica;
E' sciencia moderna do Constante,
Homem recto, sizudo, não tractante,
Consummado jurista de chibança,
Jurista de cabeça, e larga pança:
E’ o direito, pois, cousa de arromba,
Que aos pensadores faz murchar a tromba.

Chamam parvos—que o povo é soberano.
Que não supporta em si nenhum tyranno,
Que todos os poderes lhe pertencem,
Que os Reis, e que os Ministros lhe obedecem