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No viço do poder— eil-o tombado
Como o cedro do viso da montanha;
Bateu-lhe o coração na dor tamanha
E o espirito exultou no ceu doirado!
Rico de inspirações no vôo ardente
Nas azas do prazer viram-no alado,
—Inda o mesmo ao morrer— inda mais crente !

Oh não manchou a tunica brilhante
No feio tremedal—na apostasia!
Não cuspiu a derrota. . . elle sorria
Vendo a face do sol no gyro ovante!
Não foi dos entes vis, que em praça impura
Vendem a alma à fortuna triumphante,
E perjuram ao pé da sepultura!

Elle não!—a bandeira immaculada
Guardou-a inteira no fervor da fè;
Na beira do sepulchro—a mesma—em pé,
Santa como ondeou—lá está cravada!
Grande no povo, no fulgor da crença,
Deixou de chofre a terrenal morada,
E banhou-se feliz na luz immensa!

II


Maldicto o ser desgraçado
Que do altar quebrou a imagem,
Que seu preito de homenagem
Viu por preço vil comprado!
Maldicto !—fique a lembrança
Como o symb'lo do peccado
No Calvario da esperança !

A estatua nua e sem côr
Ergam sobre um mausoleo ;