Página:Primeiras trovas burlescas de Getulino (1904).djvu/225

— 221 —
III


Além, alem, meu pensamento, avante !
Que idea agora a mente me assaltêa ?!
Lá surge afortunada,
Da minha infancia a imagem feiticeira!
Quadra risonha de innocencia angelica,
Minha estação do Céo, porque fugiste ?
E que vens tu fazer—agora á tarde
Quando o sol já desceu os horisontes,
E a noite do saber já vem chegando
E os lugubres lamentos ? !
Minha aurora gentil—tu bem sabias
Como eu fallava ás brisas que passavam,
A’s estrellas do Céo, á lua argentea,
Sobre nuvem purpurea ao sol já frouxo!
Ante mim se erguia então o venerando
O vulto de meu Pai,—perto, a meu lado
Minhas irmãs brincavam innocentes,
Puras, ingenuas, como a flor que nasce
Em recatado ermo !—Ai minha infancia
Não voltarás... oh nunca!... entre cyprestes
Dormes d’aquelles sonhos esquecida!
Na solidão da morte—ali repoisam
Ossos de Pai, de Irmãos! .. . embalde choras
Coração sem ventura... a lousa é muda,
E a voz dos mortos só a campa a entende;

Tive um canteiro de estrellas,
De nuvens tive um rosal;
Roubei ás tranças da aurora
De perolas um ramal.

De auri nocturno véu
Fez-me presente uma fada;
Pedi á lua os feitiços,
A côr da face rosada.