Página:Primeiras trovas burlescas de Getulino (1904).djvu/24

— 20 —

Meu fragil peito da natura escravo.
Já nas fulgidas portas do Oriente,
Trajando purpura magestoso assoma
Luzeiro ardente, que expandindo os raios,
Deslumbra os olhos, e a razâo succumbe,
E, com furtiva luz, pallidas fogem
Notivagas espheras scintillantes.

As brandas auras perfumadas vinham
De grato aroma que invejára Méca.
Nos tortos ramos assoprar de manso.

Em nuvens brancas lá do céo cahia
Pranto saudoso que derrama a Aurora,
Que a terra orvalha, que floreia os prados.

Volatil bando de ligeiras aves,
Brandindo as azas pelo ar brincavam,
Modulando canções, ternas endeixas.

Longe do mundo, das escravas turbas,
Que o ouro compra de avarentos Cresos,
A minh’alma aos delirios se entregava,
A’ sombra de illusoes — de aereos sonhos.

Formosa virgem de nevado collo,
De garços olhos, de cabellos louros;
Sanguineos labios, elegante porte,
Mimoso rosto de Erycina bella,
Curvando o seyo de alabastro fino,
Mimosa imprime nos meus labios negros
Gostoso beijo de volupia ardente! —
Vencido de prazer, nadando em gozos,
Já temeroso pé movendo incerto,
Vôo com ella às regiões ethereas
Nas tenues azas de ternura infinda.

·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·
·