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Contra o peso da cabeça,
E’ remedio tão gabado.
Que o não deixa um só momento
Todo o homem que é casado.

Toma a velha, a moça toma,
Toma a negra, toma a branca,
Toma o rico, toma o pobre,
Tendo a venta sempre franca.

Té nos lybicos desertos,
Toma o barbaro gentio,
Torvo esturro côr de barro,
Recrestado ao sol de estio.

Oh! pitada milagrosa,
Pitadinha portentosa!
Eu quizera ser um Dante,
Ter uma harpa resonante
P’ra cantar a tua gloria,
Sobre as aras da memoria.
Não te zangues, pitadinha,
Pitadinha amarellinha;
Pobre filho da tarimba,
Vou cantar-te na marimba.
Attendei, oh tomadores,
Que eu começo os meus louvores!
E’ tão bella, é tão gabada
A virtude da pitada,
Que não ha quem lhe resista,
Seja cego ou tenha vista!
Nem a velha recurvada,
Nem a moça enamorada,
Nem o padre, nem o frade,
Seja leigo ou seja abbade,
São capazes de fugir,
Evitar ou resistir,
A’ tendencia exacerbada,
Pela força da pitada!