claridades, de fecundos descansos, purificadoras e transfiguradoras.
Assim Ofélia, húmida dos beijos da água, segue o seu dolente e lacrimoso Hamlet; Desdémona derramou o seu perdão, como um óleo
santo, sobre a agonia flamejante de Otelo: e Cordélia estira os seus braços como asas de bênção, e, com gestos de coroação, ampara a cabeça desvairada do velho rei Lear. Macbeth, esse vai seguido na sombra pelos seus negros vassalos — os incêndios, as pestes, os derrubamentos. Macbeth é o mal-fantasma. Ele não é daqueles lobos que andam, pela noite da história, dilacerando as liberdades e as pátrias. Não.
É uma energia inconsciente e fatal. Um pouco mais mergulhado na sombra, seria o igual de Satã. Quando a sua coroa reluz na escuridão, parece que as constelações devem seguir aquele reflexo terrível, curiosas de saber que sombria aventura vai ele tentar contra o Homem. Porque é certo que ele provoca a atenção do infinito, e tem misteriosas afinidades na noite. Ele atravessa todo aquele drama como um espectro.
Quando as Ondinas saíam fora da água, a namorar os moços formosos debaixo dos plátanos, denunciavam-se, as pobres, porque a orla do seu vestido estava sempre ensopada de água. Macbeth é assim: debalde se cobre de púrpuras, e se assenta aos banquetes, e fala de manobras de guerra com os seus capitães tenebrosos, e se queixa que lhe foge o sono, para parecer humano: os que se aproximam dele empalidecem, porque a extremidade do seu manto tem uma orla sulfurosa.