Ele ouve a predição das soberanias flamejantes da boca esverdeada das feiticeiras, que se dão, lascivas, aos beijos do vento, por cima das folhagens, e se somem nos esvaecimentos tenebrosos, riscando a noite de sangue. Ao atravessar pelas horas negras os seus terraços, entrevê o luzir dos punhais: não pode sentar-se aos banquetes resplandecentes, entre os risos sonoros, sem ver diante de si, com a lividez dos que fizeram a viagem maldita, o espectro de Banquo, donde se exalam os castigos. Por fim, quando toda a Escócia sangra, porque passou Macbeth esmagando as cidades, assolando os campos, enegrecendo o céu com o fumo — luto dos incêndios não são os exércitos que o vencem: a natureza ouviu as queixas humanas, os brados de justiça que saíam dos postes, das queimadas, das forcas, dos cemitérios, ouviu a alegria estridente dos abutres, dos corvos e dos milhafres – e destaca então uma floresta, que vai, com ruído trágico, esmagar o homem sinistro. Neste castigo, Shakespeare é maior que Ésquilo. Ésquilo, quando vê Prometeu pregado no Cáucaso, olha desvairado, e vendo lá em cima a serenidade de mármore dos deuses de nomes sonoros, vem, pálido, ajoelhar junto daquele rochedo ideal e santo como um altar; e, sufocado, apenas pode fazer um gesto suplicante ao velho Mar, para que mande as suas Oceânides consolar o vencido enorme.
Shakespeare, porém, quando vê Macbeth matar os reis, matar o povo, derrubar os capacetes heráldicos, matar os instintos, matar os Macduffs, matar as crianças de olhar divino,