E não queiras, Pastor, maior despique:
Se atégora calei quanto te digo,
Foi por não te affligir, prezado Amigo.
Pouco importa perder quem nada valle.
Contente-te, que toda a Aldêa falle
Contra a sua imprudente aleivosia,
Que, se pensasse bem no que o fazia,
Jámais o falso Monstro, que te deixa,
Fechára a tudo os olhos como feixa.
Deveria lembrar-se a fementida
De que a sua affeição foi conhecida,
De que inda em tuas mãos tens os penhores
De seus furtivos, tacitos favores,
Para não te obrigar com tal injúria
A que dos zelos a violenta furia
Despedaçasse hum véo mysterioso,
Hum véo tão necessario como honroso.
Mas verás se mais hora menos hora
Não he punida a infiel Pastora:
Doiradas esperanças lisongeiras
Nutrem-lhe idéas vãs, e interesseiras;
Mas Inálio he como ella ambicioso,
E só deseja hum Hymenêo lucroso,
Que lhe farte a cubiça, os bens lhe augmente:
Elle proprio mo disse, elle não mente,
Que a sua natural simplicidade
Não póde mascarar a sã verdade.
Eia, pois, cesse o pranto, enxuga o rosto,