E busque-se vingança igual ao crime.
Ritália bella, encanto dos Pastores,
Merece meus suspiros, meus amores:
Com ella fui mil vezes desatento,
Negando-lhe o devido acatamento
Por cumprir o preceito rigoroso
De Urselina infiel, que no enganoso,
No detestavel peito encerra, e nutre
Da venenosa Inveja o feio Abutre,
Porque a meiga Ritália he mais do que ella
Branda, risonha, delicada, e bella
Quanto he mais agradavel, mais formosa
Que as outras flores a punícea rosa.
Ritália desde agora o lindo objecto
Será do meu fiel, constante affecto:
Arrebatado em extasis de gosto,
Louvores de seus olhos, de seu rosto
Farei voar nas azas da ternura,
E assim me vingarei d'huma perjura.
Ella, por timbre meu, o escute, o saiba,
E o Coração no peito lhe não caiba
De inveja, de furor: eu, entretanto,
Troque em placido riso o triste pranto,
E a fria indifferença, com que intento
Recompensar-lhe o torpe fingimento,
Até tão alto gráo nesta alma creça,
Que eu veja a desleal, e a não conheça.

F I M.