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KOSMOS

mesmo em familia (Hyperinas anormaes e H. ordinarias). Comtudo, ella é desenvolvida sómente quando os animaes estão quasi perfeitamente adultos. Até então, os jovens se assemelham ás femeas, de um modo geral; mesmo em alguns casos, em que estas diffiram, mais amplamente do que os machos, do « Typo » da ordem. Assim, nos machos de Orchestia, o segundo par das patas anteriores é provido de mãos poderosas, como na maioria dos Amphipodes; porém construidas muito differentemente nas femeas. O joven, comtudo, assesemelha-se á femea. Assim tambem — e tal caso é rarissimo [1] — as femeas de Brachyscelus são destituidas das antennas posteriores (ou inferiores); os machos as possuem, como os outros Amphipodes; nos jovens eu, assim como Spence Bate, d'ellas não encontrei traço.

Deve-se, comtudo, notar, especialmente, que o desenvolvimento das peculiaridades sexuaes não estão, ainda, no ponto da maturidade.

FIG. 50 — Patas do segundo par (2º par de guathopodes) do macho e (fig. 51) da femea de Orchestia tacuratinga — 15 diametros.

Por exemplo, os machos sexualmente mais jovens de Orchestia tucurauna, n. sp. têm antennas inferiores delgadas, com os articulos do flagello não fundidos; a margem prehensora (palma, Sp. Bate) da mão, no segundo par de patas, e uniformemente convexa, o ultimo par é delgado e semelhante ao precedente. Em seguida, as antennas se tornam espessas; dous, tres ou quatro dos primeiros articulos do flagello são fundidos juntos, a palma da mão adquire uma profunda emarginação, junto do angulo inferior, e os articulos intermediarios, do ultimo par de patas, se entumecem em consideravel dilatação. Nenhum zoologo de museo hesitaria em fabricar duas especies distinctas, se os mais velhos e os mais novos machos, sexualmente maduros, lhe fossem enviados sem formas intermediarias que os unissem. No macho mais novo de Orchestia tacurutinga, comtudo, o exame microscopico de suas glandulas sexuaes, mostrou que elles já estavam adultos sexualmente, a emarginação da palma da mão (representada na fig. 50 e 51) e os processos correspondentes do dedo, ainda faltam inteiramente. O mesmo se póde observar em Cerapus e Caprella e, provavelmente, em todos os casos em que occorram differenças sexuaes hereditarias.

Visinha ás extensas secções dos Podophthalmos e Edriophthalmos, porém, mais proximamente alliada á primeira, vem a notavel familia dos Diastylideos ou Cumacea.

FIG. 52 — Macho de Bodotria, 10 diam. Note-se as longas antennas inferiores, estreitamente applicadas contra o corpo e cujas pontas apparecem por debaixo dos appendices caudaes.

Os jovens, que Kroyer retírou mesmo do sacco ovigero e que attinge um quarto do comprimento de sua progenitora, assemelhão-se ao animal adulto em quasi todas as partes. Se, como em Mysis e Ligia, occorre uma transformação dentro do sacco ovigero, que seja construido do mesmo modo que em Mysis, é o que não se sabe. [2] A parte caudal do embryão nos Diastylideos, como eu observei recentemente, é curva para cima, como nos Isopodes, e o ultimo par de patas thoracicas, falta.

Egualmente rudimentar é o nosso conhecimento sobre a historia evolutiva dos Ostracodes. D'ella, nada sabemos mais alem de que, os membros anteriores se desenvolvem antes dos posteriores (Zenker). O desenvolvimento de Cypris foi recentemente observado por Claus: « Os primeiros estados são Naupliiformes, portadores de uma carapaça. »

FRITZ MULLER.



  1. Não conheco algum em que as antenas inferiores sejam obsoletas, quando as superiores sejam desenvolvidas Dana. (Darwin, Monogr. of the Sub-Class Cirripedia-Lepadidae, pag. 15.)
  2. Um naturalista inglez, digno de fé, Goodsir, descreveu os saccos ovigeros e os ovos de Cuma, já em 1843. Kroyer, cujo meticuloso cuidado e consciencia são reconhecidos com admiracão por todo aquelle que o encontra no campo da sciencia, confirmou os dados de Goodsir em 1846, e, como foi mencionado acima, retirou do sacco evigero embryões adiantados em seu desenvolvimento, os quaes se assemelhavam aos seus paes. Por aqui, a questão de serem os Diastylideos animaes adultos ou larvas, está completa e definitivamente resolvida; e só os nomes famosos de Agassiz, Dana e Milne-Edwards, que quizeram recentemente reduzir os ditos animaes á larvas (Vide Van Beneden, Rech. sur la Faune littor. de Belgique. Crust., pp. 73 e 74), me induzem, com o appoio de numerosas investigacões minhas, á declarar, com as palavras de Van Beneden «Entre todas as formas embryonarias de Podophthalmos ou de Edriophthalmos que observamos sobre as nossas aguas, não vimos uma unica que tivesse a menor semelhança com qualquer especie de Cuma». A unica coisa que acompanha as larvas de Hypolite, Palaemon e Alpheus, na caracterisação de familia dos Cumacea dada por Kroyer e que occupa tres paginas (Kroyer, Naturhist. Tidsskrift, Ny Række, Bd. II- pags. 203-206) é «Duo antennarum paria.» E isto, como é bem sabido, se applica à quasi todos os Crustaceos. Como estamos, nós, por isso, bem garantidos em identificar o ultimo com o primeiro! Comtudo, é sufficiente a quem quer que seja, passar os olhos sobre as larvas de Pataemon fig. 27 e das Cumarea (fig. 52) para ficar convencido da sua extraordinaria semelhança.