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nuntius antiquus

Belo Horizonte, v. X, n. 2, jul.-dez. 2014
ISSN: 2179-7064 (impresso) - 1983-3636 (online)

[57] De seis côvados é o comprimento de seu passo,*
---- côvados ---- de seu ----,*
[59] Suas faces são barbudas como as de ----,
Os tufos do cabelo, exuberantes como Níssaba,*

[61] Pelo talhe é perfeito em seu encanto,
Pelos padrões da terra, formoso é.

Pastor de Úruk


[63] Pelo redil de Úruk ele perambula,*
Mandando como um touro selvagem altaneiro.


[Verso 57] Cf. GBGE, p. 785, a expressão birīt purīdi, que significa literalmente “espaço entre as pernas”, pode também designar a parte alta da coxa ou a virilha. Considerando que a medida, neste caso, seria de 6 côvados ou cerca de 3 metros, o que equivale ao comprimento das pernas de Gilgámesh, a proporção aplicada a seu passo parece correta. Isso corresponde ao dobro da medida convencional do “passo” (purīdu) na metrologia babilônica, ou seja, 3 côvados (mais ou menos 1,5 m).

[Verso 58] Neste verso lê-se ammat ašaritti š[a...]tešu, o primeiro termo significando “côvados”, o segundo tendo um sentido desconhecido, devendo designar alguma parte do corpo (tantos côvados mede tal parte do corpo) e o terceiro estando bastante corrompido. Cf. GBGE, p. 785, Tournay e Shaffer sugerem que se trate do polegar, restaurando ša [ubāna]tešu, o termo ubānu tendo o significado de “dedo” (ašaritti ša ubāna devendo significar, portanto, “dedo polegar”).

[Verso 60] Este verso é restaurado a partir do v. 107 (“os tufos de seu cabelo exuberantes como Níssaba”), em que está em causa Enkídu. A imagem alude ao grão “cabeludo” da cevada madura, a deusa Níssaba (Nísaba ou Nídaba) tendo o “cabelo de cevada amarrado em grossos feixes” (cf. GBGE, p. 785-786, em que se apresentam exemplos relativos à deusa). Níssaba estava tradicionalmente relacionada com esse cereal e, posteriormente, também com a contabilidade e a escrita. O pictograma que a representava desde a época suméria era uma espiga de cevada, sendo cultuada desde a época dinástica antiga e considerada irmã de An e Úrash. Fazia parte do panteão de Lagash, onde era tida por irmã de Énlil. Em época posterior, por sua relação com a escrita, foi considerada esposa do deus-escriba Nabû. Como termo comum, nissabu/nissaba significa “cevada” (CDA, s.v.).

[Verso 63] Neste ponto tem início a narrativa propriamente dita, com a exposição dos atos de Gilgámesh em Úruk, marcados pelo excesso, em consonância, aliás, com sua natureza fora do comum, tal qual acabou de ser apresentada.


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