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BRANDÃO, Jacyntho Lins. Sîn-lēqi-unninni..., p. 125-160

[65] Não tem rival se levanta seu taco,
Pela bola os companheiros levantam.*
[67] Assedia os jovens de Úruk sem razão,*
Não deixa Gilgámesh filho livre a seu pai.
[69] Dia e noite age com arrogância
Gilgámesh rei ---- uma multidão guia.

[71] Ele, o pastor de Úruk, o redil,
Não deixa Gilgámesh filha livre a sua mãe.
[73] ---- logo ---*
Suas queixas ---- diante dele:*

[75] Poderoso, magnífico, sapiente,
Não deixa Gilgámesh moça livre a seu noivo.*
[77] À filha do guerreiro, à esposa do jovem,
Ouviram-lhes as queixas as deusas.*
[79] Os deuses dos céus, senhores do comando,*


[Versos 65-66] Trata-se de trecho de leitura duvidosa (cf. GBGE, p. 786-786). A referência parece ser ao jogo com pukku (bola) e mukkû (taco), em que Gilgámesh se destaca (cf. o que se afirma em 12, 4-5). Observe-se a estratégica repetição do verbo “levantar” (tebû), aplicado tanto ao taco de Gilgámesh quanto aos próprios companheiros nos esportes.

[Verso 67] “Sem razão”, conforme a sugestão de SEG, p. 111, traduz ina ku-k[itti], ou seja, “com algo que está fora de lugar” (GBGE traduz a expressão como wrongfully, “injustamente”).

[Versos 73-74] Este dístico encontra-se muito pouco preservado (cf. GBGE, p. 786), parecendo que narra como as mulheres começaram a lamentar-se diante dos deuses. O conteúdo de sua súplica encontra-se em 75-76, remetendo ao narrado nos v. 67-72.

[Verso 76] Não é fácil saber a que se referem o v. 68 (Gilgámesh “não deixa filho livre a seu pai”) e o v. 72 (“não deixa filha livre a sua mãe”), mas parece que o v. 76, que repete a mesma fórmula com variações (“não deixa Gilgámesh moça livre a seu noivo”), remete ao direito de o rei desfrutar da primeira noite com a noiva. Isso fica mais claro tendo em vista a referência (que imediatamente segue) à súplica da “filha do guerreiro” e da “esposa do jovem” às deusas, a qual, no v. 91, termina com repetição do v. 76 (“não deixa Gilgámesh moça livre a seu noivo”).

[Verso 78] Não fica claro a que “deusas” o texto se refere. Como anota GBGE, p. 787-788, o verbo exige um sujeito no plural, embora o termo que se lê seja ištaru, “deusa”. Parece que se trata, neste caso, de um uso como coletivo.

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