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BRANDÃO, Jacyntho Lins. Sîn-lēqi-unninni..., p. 125-160

[15] Toma a escadaria, que há ali desde o início,
Aproxima-te do Eanna, residência de Ishtar,
O qual nem rei futuro nem homem algum igualará.

[18] Faze a volta, ao alto da muralha de Úruk vai,
Seu fundamento examina, os tijolos observa,
[20] Se seus tijolos não são cozidos,
Se seu alicerce não cimentaram os sete.*

[22] Um shar é cidade, um shar é pomar, um shar são poços de argila,
meio shar é a casa de Ishtar:
[23] Três sharu e meio, a extensão de Úruk.*

[24] Busca o cofre de cedro,
Rompe o ferrolho de bronze,
[26] Abre a tampa do tesouro,
Levanta a tabuinha lápis-lazúli, lê
O que Gilgámesh passou, todos os seus trabalhos.*


ponto ao leitor, com duplo resultado: o efeito de espelhamento (Gilgámesh está para o narrador como Ur-shánabi para o leitor); o efeito da composição em anel (Ringkomposition), o poema fechando-se com palavras que remetem a seu início.

[Verso 13] SEG, p. 110, lê o texto como ša kima qê nēbh[ušu] e o traduz por “como uma corda é seu recinto”, o que significaria que se trata de espaço perfeitamente reto. George adota a lição kima qê nipši, “como um tufo de lã”, que é a que sigo, inclusive por ser a leitura mais difícil.

[Verso 21] De acordo com as tradições mesopotâmicas, numa época anterior ao dilúvio sete sábios (em acádio, apkallū) foram enviados pelos deuses para civilizar a humanidade. Eles são representados numa forma não de todo humana, em geral com cabeça de peixe (cf. GDS, p. 163-164).

[Versos 22-23] O šār é uma unidade de medida neobabilônica equivalente a cerca de 2,5 quilômetros quadrados. Tendo em vista o sistema sexagesimal que era então utilizado, correspondia a 60 vezes 60, o que indicava uma cifra muito alta em termos de espaço ou tempo (cf. adi šār, “para sempre”, “em todo lugar”). Menos que fornecer uma medida exata, a intenção dos versos é ressaltar a imensidão de Úruk.

[Versos 24-28] O que se dá a entender é que os feitos de Gilgámesh se conservaram inscritos numa estela (cf. v. 10), que agora se qualifica como de lápis-lazúli. A referência a um cofre como o lugar em que a tabuinha foi depositada sugere que o escrito foi posto provavelmente no interior de um templo.

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