– Canta, canta mais, cafuzo... Quem não tem Nosso Pai ouve a cantiga. Canta.
Era tarde quando desci o outeiro. Raimundinho lá ficou cantando.
No dia seguinte, à hora em que saía o gado, estava eu debruçado à varanda quando vi o cafuzo que preparava o animal viageiro:
– Raimundinho, como vai ele?...
De longe apontou a palhoça:
– Sim.
O braço caiu-lhe, olhou-me algum tempo comovido; depois saltando para o animal, levou o polegar à boca fazendo estalar a unha nos dentes:
Às quatro da manhã... Atirei um verso e disse, para bulir com ele: Pega, velho! Não respondeu. Tio Firmo, mesmo velho e doente, não era homem para deixar um verso no chão... Fui ver, coitado!... Estava morto. E deu esporas para que eu não lhe visse as lágrimas.
Subi ao outeiro. Pobre Firmo! Lá estava no fundo da rede, cercado de gente. Guardara o sorriso, morrera feliz, ouvindo os cantos do seu tempo e bem perto de casa o mugido dos rebanhos. E bem que o choraram nessa noite os grandes bois, e diziam, entretanto, que eles estavam louvando o Senhor Menino; chorando o companheiro é que eles estavam, os grandes bois que pressentem todas as desgraças e que veem a morte passar, à noite, com a foice de rastro, através das campinas! Bem que choraram nessa noite os bois: de certo viram a morte entrar na cabana de Firmo.