– Proveita, rapaz! disseram ainda.

E Manezinho, batendo na mesa, chamou a atenção da parceirada: estavam duas cartas voltadas – uma dama e um seis de ouros.

– Bota na dama, Manezinho! – bradou um negro estabanado batendo na mesa com o chapéu de couro.

– Quanto?

– Bota um, home.

Mandovi, interessando-se pelo jogo, deteve-se firmado ao cajado e, de pé, dominando com a sua altura todos os jogadores, que iam cercando as cartas, exclamou de repente num berro:

– Espera! não tira, Manezinho. Diabo de carta, veio aí só pra mexer comigo. Não tira Manezinho. Meteu a mão no bolso, tirou uma moeda e, passando o braço por entre dois vaqueiros, deu com ela na mesa escondendo-a debaixo da mão espalmada. Tira agora e firme! Vai tudo isso no seisão!

Um dos vaqueiros mirou-o sorrindo:

– Ocê não pôde mais, hein, véio?

Os outros, imóveis, com os olhos nas cartas, tiravam fumaradas dos cachimbos e o ar morno, denso, enevoado de fumo, tornava-se irrespirável. Fora os sapos coaxavam sem descontinuar. Manezinho, sem levantar a cabeça, esperava até que o negro, coçando, com fúria, a carapinha, bradou:

– Faz isso duma vez, Manezinho.

O vendeiro pôs-se a atirar as cartas, num grande silêncio. De repente, porém, endireitou-se correndo um olhar rápido pela mesa; o negro bramiu afundando, com uma punhada, a copa do chapéu de couro:

– Eh! lá em casa... que sorte!