no caminho esfaqueando um mascate italiano que descia para cidade, depois das festas do Natal, com a bolsa de couro de anta atochada de prata.

A parceirada moveu-se. Eram seis vaqueiros da redondeza, que jogavam enquanto o gado dormia nos campos frescos, à luz quieta dos astros, em torno dos ranchos. O vendeiro, gordo, duma cor arroxeada, em mangas de camisa, o cachimbo nos beiços, dava as cartas e cada um dos parceiros tinha à mão um copo de aguardente. De quando em quando um deles pigarreava, cuspia de esguicho por entre dentes e, arrebitando o beiço, sorvia um trago com um eêh! prolongado, cravando logo os cotovelos na mesa sórdida e fincando os olhos agudos no baralho seboso. Um lampião de querosene alumiava escassamente o interior e, como cada um dos homens havia levado o seu cão, os animais dormiam estirados por baixo da mesa ou pelos cantos e, de vez em vez, ouvia-se um toc-toc ou o rosnado preguiçoso de algum que só espreguiçava. Manuel Monte, enquanto dava as cartas, levantou os olhos miúdos para Mandovi e disse sorrindo maliciosamente:

– Ocê vai mas é pro rancho do Casimiro, cabra. Proveita, proveita enquanto o bicho anda longe.

Houve uma gargalhada estrondosa e todos os vaqueiros olharam para o caboclo que acendia o cachimbo vagarosamente.

– É, ocês pensa que a gente não tem mais que fazer senão andar atraz do cheiro de saia, cumo cachorro no rasto de cutia. Aminhã, cedinho, se Deus quiser, tô no Cabuçu vendo umas rês nova...