da arte bizarra dos japões, coladas sobre cetim negro, apareceu uma mocinha pálida, magrinha, de cabelos ruivos despenteados. O mulato acudiu-lhe ao chamado, cochicharam e, logo em seguida, ele subiu ao estrado e acendeu os dois bicos de gás que iluminaram a mesa. Houve um sussurro na sala abafada - cadeiras arrastadas, pigarros; uma criança pôs-se a chorar.
Da rua entraram na sala taciturna as rajadas alegres de um dobrado. Um dos marinheiros foi à janela, outro seguiu-o, mas a música perdia-se, morria na distância, como levada pelo vento, e o silêncio recaiu. Dona Júlia, vendo o movimento dos assistentes, compreendeu que se iam passar coisas estranhas, e chegou-se muito à Felícia, numa necessidade de proteção. Cortava apenas o silêncio uma tosse intermitente que vinha de um canto.
Súbito, rompendo da treva do corredor, um homem apareceu, ligeiro, irrequieto, com o lenço em volta do pescoço. Subiu logo para o estrado, sentou-se à mesa e disse: "Deus esteja convosco". Um murmúrio correu pela sala, como a passagem do vento nas árvores. Uma mocinha, que ocupava uma das primeiras cadeiras, a cabeça pendida sobre o colo magro, estremeceu violentamente, com um suspiro entrecortado, e a cabrocha, persignando-se, deixou cair o cajado, com estrépito; todos voltaram-se, como assombrados.