rumor. Velho, calvo, com uma barba rala emoldurando a face lívida, seguiu direito para a mesa, abanando-se ligeiramente com um leque. O que lia ergueu-se e, cedendo-lhe o lugar, pôs-se de pé, fechou o livro e entrou a falar da Piedade:
"O espírita não tem o direito de matar, mesmo em legítima defesa não deve levantar mão criminosa contra o seu semelhante. Se algum dia um de vós, meus irmãos, for atacado por um homem cuja razão obscurecida o leve ao crime, em vez de responder ao fogo com o fogo, ao ferro com o ferro, deve procurar chamar o transviado ao bom caminho com palavras virtuosas e, se não conseguir convencê-lo, é preferível deixar-se matar a cometer o crime nefando de assassínio, porque, na outra vida, esse ato de piedade cristã será premiado largamente por Deus.
"Os espíritos sofrem nas reencarnações. Eu, por exemplo, meus irmãos, fui Pedro Arbues, o grande inquisidor. E hoje, por que sofro tanto a calúnia, a ameaça de morte, as dores físicas, as provações morais? Pelo que faço nesta vida de agora? Não, porque, iluminado pela claridade divina, o meu espírito segue pelo caminho direito da Verdade.
"Sofro pelo que fiz na primeira encarnação; sofro porque fui surdo aos lamentos dos infelizes que eram levados às fogueiras; sofro porque não dei atenção aos gritos dos pobrezinhos, aos gemidos das crianças, aos soluços dos inocentes.