"E vede: Pedro Arbues, que foi um rancoroso, é santo, teve a canonização, a Igreja deu-lhe um lugar honroso no coro de Deus e eu padeço por ser justo, sofro vexames e tormentos porque não me desvio da virtude.
"Não julgueis, porém, que me revolto - resigno-me e bendigo todos os sofrimentos, que são a expiação de antigas culpas. Terei a recompensa quando deixar esta carne efêmera para residir, em puro espírito, à direita do Eterno. Nunca penseis em vingança, meus irmãos!" - exclamou fanhosamente.
O velho, d'olhos fechados, repoltreado na cadeira da presidência, abanava-se ligeiramente, como os acrobatas japoneses, virando, revirando a cabeça. O outro continuou: "Os nossos padecimentos são insignificantes em relação aos nossos crimes. Ainda penando devemos ser gratos à misericórdia divina". Dona Júlia acenou afirmativamente com a cabeça. "Quando virdes um homem torturado, lastimai-o, mas não o julgueis vitima de uma injustiça de Deus, não! Ele buscou, com atos, aquelas dores; ele mesmo abriu as feridas em seu corpo e preparou a ruína da sua casa. Os julgamentos de Deus são retos e inexoráveis."
Limpou o suor da fronte, depois, atirando o lenço à mesa, disse, inspirado, cravando os olhos em Dona Júlia:
"Não vos revolteis contra Deus. Por que duvidais do seu poder? Por que blasfemais? Por que o vosso filho, desvairado pelas paixões, desprezou o vosso carinho, enveredando, alucinadamente, pelo caminho do vício? Confiai