acaçapada na cadeira, a cabeça descaída, a boca aberta, dormia com um silvo nasal.
À hora do enterro, quando fecharam o caixão, Violante, que se vestira de preto, um rico vestido de gorgorão, rebrilhante de vidrilhos, teve uma crise de lágrimas beijando desesperadamente a face lívida, as mãos engelhadas da finada.
A vizinha arranjava as flores, a mulata ainda compunha o vestido ruço acomodando-o. Mamede apanhava as duas coroas, uma pobre, de flores de pano, lembrança de Paulo; outra, que viera com o caixão, de biscuit, com largas fitas roxas onde, em letras de ouro, a filha mandara colar a sua "saudade eterna", quando o homem da véspera, todo de preto, saltou de um coupé e entrou com liberdade, indo direito a Violante.
Tanto que ela o sentiu, logo calou os gemidos e, erguendo a linda face, perguntou tristemente:
— Veio o carro?
— Está aí. - E baixinho, com meiguice: Então? Está a teu gosto?
Ela lançou um olhar ao caixão que Mamede ia fechando:
— Muito bom. Não sei como te hei de agradecer tanta bondade. - E olharam-se com ternura.
— Eu queria acompanhar, mas... É a minha hora de trabalho, depois... - e sorriu, um triste sorriso em que havia a leve sombra de uma contrariedade.