Um silêncio pesou então. Cristóvão cerrara as pálpebras. E o prior, um momento, aqueceu à chama as suas mãos trêmulas.
Mas os seus olhos fixavam-se na chama, com uma atração crescente: um clarão de cobiça iluminava-lhe a face, e a sua língua apareceu à beira da boca seca, como adiantando-se para uma grande peça de carne tenra, vermelha, chiando ainda no largo prato onde fora assada... Chegou mesmo a estender a mão aberta. Mas deu um grito. Onde tinha ele os espíritos que não reconhecera uma ilusão do Inimigo, que o vinha tentar pela gula?! Furioso, ordenou a Cristóvão que apagasse a fogueira.
Com os braços em cruz, passeou então no estreito terraço bordado de pedras. A sua boca seca mascava com um ruído contínuo: - e ia balbuciando orações. Os olhos de Cristóvão, fixos no brasido vermelho que restava do fogo, iam-se cerrando. Toda a montanha se calara. E como insensivelmente atraído, o ermita voltou a olhar o brasido, que vermelhava numa brasa viva. O que ele agora via eram montões de dinheiro, ducados de ouro, montes de rubis escarlates que se esboroavam, numa infinita rutilação de tesouros. Bastava baixar a mão, e teria tesouros para comprar um condado, erguer catedrais, assalariar mercenários, comprar jóias às rainhas, ter todas as satisfações do poder, e do amor, e do orgulho eclesiástico. E