gritava com um grande gesto: “Vinde também”. O seu coração queria abrigar toda a miséria humana, levá-la a esmolar pelas estradas do mundo. Do dinheiro recebido, repartia com as aldeias pobres. As crianças corriam, estendendo os saios, que ele às mãos-cheias enchia de grão, de fava. Uma doçura ia tomando aqueles corações da turba miserável. Alguns tinham arrojado a foice. Outros, ao passar pelas ermidas ou pelos cruzeiros, caíam de joelhos chorando.
E sempre adiante, Cristóvão ia como uma torre que marchava. Uma adoração subia para ele. “Santo é o nosso gigante” – diziam. E, na sua confiança, julgavam que a vida seria assim, eternamente, uma marcha pelos caminhos, recolhendo os bens que os nobres repartiam com os pobres. Decerto Jesus voltara à Terra. Em breve todos os castelos se abririam, e partilhadas as riquezas, quebradas as armas, não haveria fomes nem guerras, e apenas, na paz dos campos doces, irmãos abastados. O acampamento, quando paravam, era como aldeia em festa, onde a carne abunda no espeto, e todas as mãos têm uma fatia de pão. Já a marcha se abrandava, e por vezes ficavam num vale, ou à beira de um ribeiro, num repouso feliz, esquecidos de todas as misérias . Dos filhos, das mulheres que tinham ficado nas aldeias, ninguém se inquietava – porque, cada