gemia lamentavelmente. Todos os seus membros estavam como troncos nodosos, inchados pela umidade constante. De todo ele saía um cheiro a vasa e a limo. E as suas pernas, sempre na água, tinham um tom verde, como as estacas de uma levada.
O seu leito de folhas secas era-lhe doce, e quando sentia vozes que o chamavam, era com um gemido que se erguia. Já lhe levava o dobro do tempo a cortar a corrente – e por isto eram constante as injúrias que recebia. Para se apoiar na água, sentindo que suas forças diminuíam, teve de fazer um grande bastão aguçado, com um tronco. E cada Inverno pensava, com inquietação, se a força lhe sobraria para fender a corrente furiosa do rio mais cheio.
Agora, apenas passava os viajantes, logo se vinha deitar. E chegou mesmo a pedir, por caridade, que lhe deixassem um pouco de vinho, para tomar nas noites mais duras, como um cordial que o amparasse. Oh! muito pouco, um pichel somente... Ele, cautelosamente, o pouparia.
Ora uma noite de grande Inverno, em que ventava, nevava, e o rio muito cheio mugia furiosamente, Cristóvão, já muito velho, trôpego, com feridas nas pernas, dormia no seu chão molhado – quando fora, na noite agreste, uma voz pequenina e dolorida gritou: “Cristóvão! Cristóvão!”