além, depois de grossos penhascos de pórfiro, eram as areias, as imensas areias arábicas, ondulando até ao mar Vermelho, lisas, fulvas, como a pele de um leão.
Cada vez que a mimosa se cobria de cachos amarelos, Onofre, com um ferro de lança encontrado no fundo da sua caverna, entalhava na rocha um risco, como os que seu pai, na sua taberna, em Afrodite, sobre o Nilo, traçava no muro para apontar os anos do vinho mareótico.
Todos os três meses, um monge aparecia, montado no seu dromedário, trazendo em seirões de esparto esses pães de aveia, duros e mais largos que rodas, que os abades dos mosteiros distribuíam pelos Solitários. Sem descer do dromedário, o monge dava a
Onofre o seu pão, bebia uma malga de água fresca, contava a nova considerável de algum édito imperial sobre os Cristãos, de um outro César aclamado pelas legiões, ou de uma heresia inesperada que afligia a Igreja – e partia, desaparecia entre as dunas, curvado sob o seu longo capuz, ao lento badalar dos guizos do seu dromedário. Por muitas luas, Onofre não avistava outra face humana. E a sua vida recomeçava, sempre igual, como a água do seu horto, que, com o mesmo rumor, escorria nas mesmas pedras.
Cada noite, ainda com as estrelas empalidecendo