quanta arte perversa, e quanta beleza!
Uma sobretudo, Glicéria, que era filha de um gravador de pedras finas, e morava tão perto do Galo que ele a sentia cantar, fiando, sentada à beira do seu eirado, ou pendurando nos ramos do limoeiro as roupas do irmão pequenino! Muitas vezes, passando pela sua porta, de madrugada, vira sobre ela, traçados com gesso, louvores à sua formosura, e à graça do seu andar: – Glicéria, por ser a mais bela, inquieta Vénus! – Os teus pés, oh Glicéria! correriam sobre lírios sem lhes macular a pureza! – E ele corava indignado, como se surpreendesse um ultraje. Tinha então quinze anos – ela vinte: e quando a avistava à beira do terraço, ligeira e branca, com o irmãozinho no colo, uma melancolia sem razão, doce como o crepúsculo, descia sobre o seu coração. A última vez que a encontrara fora nessa manhã, em que ele subira ao templo de Esculápio, para se despedir do velho arquivista, seu mestre.
Era à hora da sesta – e em torno do Santuário, branco e lustroso, o bosque sagrado repousava no esplendor do sol de Agosto, sem um murmúrio de ramagem, abrigando aqui e além, na sombra fresca, alguma nudez de estátua, que rebrilhava.
E no silêncio, o gotejar dormente das águas lustrais sobre as bacias de pórfiro, o arrulhar