aquele Santo terrível, nunca dele recebera um sorriso, uma consolação, um amparo – porque de tanto viver na solidão arenosa e pedregosa, aquela alma ganhara a secura das areias e a rigidez das serranias. Mas se ele, entre duas longas orações, estendia mais o seu repouso, ou se retardava à beira do poço salobre que lhe dava a água – logo os olhos do Solitário, aqueles seus olhos pequeninos e rebrilhantes entre densas pestanas brancas, o traspassavam numa repreensão muda e dura. Ah! ele nunca decerto compreendera aquela virtude medonha!... A fama da sua velhice, da sua santidade, invadira todo o Egipto. Dos montes e das cidades acudiam monges, acudiam mesmo pagãos, para o visitar, uns na admiração de tão espantosa penitência, outros na esperança de serem por ele curados de feridas e males. O terrível velho, porém, nem sequer consentia que eles se aproximassem da sua caverna: – e um dia mesmo tentou arremessar contra um mais ousado, que lhe queria tocar o corpo ou a túnica de pele, uma pedra que o seu braço já não pôde erguer. Era de longe que os peregrinos o contemplavam – enquanto, sentado no chão, com os olhos baixos ou perdidos no céu, e tão alheio àqueles homens como se fossem as pedras do seu Deserto, bocejava com lentidão, ou metia a mão por entre a túnica para coçar sobre o peito, e sobre os rins, as