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a todas aquelas almas, por sentirem tão certo e vizinho o Paraíso!

Por isso ele, depois de receber o Baptismo, em dia de Páscoa, e ter comido o bolo de mel, e revestido a túnica de inocência, suplicara, em lágrimas, ao velho abade Serapião, que lhe concedesse uma cela para viver entre os seus monges, no trabalho perpétuo, na perpétua oração... Mas o bom abade não consentira – porque a sua fé era recente, o que um sopro levanta um sopro o abate, e só almas experimentadas em maior aspereza e solidão podiam recolher, nas doçuras espirituais daquele mosteiro ilustre, o preço da sua fortaleza.

Então, por conselho de Serapião, ele penetrara mais longe, no Deserto, para além da Planura dos Carros, nas agrestes serranias que se alongam até Colzim. E aí fora servir um velhíssimo Solitário, a quem o derradeiro discípulo fugira, com um bando de sarracenos, para remergulhar no Pecado. Nilo era o nome desse Solitário espantoso, que tinha cento e vinte e três anos, e já não podia caminhar senão de rastos com as mãos sobre as pedras.

Tão longa e alta fora a sua penitência, naquela solidão, durante um século, que não temia Deus, nem orava – e, como um obreiro que findou a obra, apenas se contentava em olhar o céu, silenciosamente, à espera do seu salário. Durante três anos que servira