no meio do eirado, Onofre tremia, esperando a cada instante que elas se precipitassem, se abatessem sobre o seu corpo misérrimo. Mas nenhuma se descolava da borda da rocha, no seu perpassar incessante e mudo: apenas por vezes um longo braço mole escorregava, pendia, raspando a pedra com garras ásperas; ou uma longa asa se espreguiçava por sobre a cabeça do Solitário, muito no alto; ou uma face horrenda se debruçava, a espreitar, com a língua pendente e cor de fogo. Se ele se refugiava na caverna, sentia por cima, como se a densa massa de rocha fosse apenas um soalho ténue, o pesado tropel de patas moles – e pelas rachas da abóbada, de repente, caía uma ponta de rabo que se torcia, ou descia um dedo com uma longa unha de ferro. Todo o monte parecia fervilhar de vidas monstruosas. Debaixo dos seus pés nus, a pedra tinha o calor, a moleza viscosa de um ventre. A própria abertura da sua cova, ora se alargava, ora se cerrava, como uma boca que espera a presa.
De madrugada, o seu cansaço era tão grande, que mal podia segurar a enxada para cavar o seu horto: – e, muitas vezes, adormecia exausto sobre as folhas abertas do Evangelho. Para espantar os monstros, imaginou acumular galhos e ervas secas, na sua esplanada, e acender de noite uma fogueira.
Imediatamente, nas contorções da chama, apareceu