da cova de Onofre, ficava atulhado de uma multidão de homens, de longas barbas, soltas e entrançadas, envoltos em mantos negros, ou ostentando simarras de cores estridentes, todos mais pálidos que marfim, com olhos encovados que refulgiam, e agitando nas mãos inquietas grossos rolos de papiros, ou tabulários escritos. Ora um só, de pé, falava com abundância e cadência: ora todos, tumultuosamente, disputavam, mas sem se encararem, com os raios negros das pupilas ardentes cravados no Solitário. Encruzado à porta da sua caverna, com os longos dedos descarnados pousados sobre os ossos salientes dos joelhos, Onofre pasmava para aquelas facúndias sonoras.
Através delas, uns após outros, sem respirar, enchendo o deserto de ruído, aqueles homens (que eram decerto doutores) afirmavam princípios, cheios de irrisão ou mentira. – O Deus de Israel era um anjo subalterno! Jesus não passava de uma simples continuação de Adão! O Mundo fora criado por um delírio do Senhor! Para vencer a carne era necessário contentá-la – e só pelo vício se atingia a perfeição! Há só uma alma, que está tanto nos homens como nas rochas! Só a matéria é eterna, e os deuses morrem. O Mundo foi concebido pelo Diabo! Jesus é filho de Achmaroth e a sua residência é o Sol! O Espírito Santo é uma mulher! Só Caim é verdadeiro!