E a cada uma destas revelações, lançadas com estridor, Onofre ora entreabria uma boca néscia, ora rompia num riso largo e límpido, que lhe sacudia as costelas sob o seu surrão de peles. Então, arremessados sobre ele, todos lhe brandiam junto da face os seus papiros, os seus tabulários. Eram as Provas! Eram as Escrituras! Eis a Profecia de Maxila! Eis o Tratado de Apolónio! Eis o Tratado da Alma Adventa!...
– Compreendeste?
E o mais novo dos doutores, que tinha unia mitra oriental, suplicava Onofre, curvado sobre ele, com sofreguidão:
– Faz um esforço! Faz um esforço! Diz que percebes!
Silenciosamente, com um resto de riso que lhe faiscava nos olhinhos miúdos, Onofre encolhia os ombros, murmurava:
– Só creio no Padre, no Filho, no Espírito Santo!
Então um murmúrio de tédio, de indignação contra tanta simplicidade, corria entre os doutores subtis. Os mais violentos arremessavam-lhe injúrias. Outros, majestosamente, voltavam as costas largas, cobertas de largos mantos que roçagavam. E todos se sumiam por entre as rochas, em tumulto.
Mas, com o crepúsculo, voltavam – e Onofre lá estava sentado à entrada da sua cova, já risonho,