um pouco de óleo, para amaciar os membros doridos dos seus enfermos. Outras vezes alugava o seu pobre corpo descarnado aos mais duros serviços – e puxava à sirga os barcos nos canais, acarretava pedras para a reparação das muralhas, rachava na caserna romana a lenha da coorte: – e as moedas de cobre, que lhe atiravam à palma da mão, vinha trazê-las, correndo, a algum casebre onde conhecia crianças sem pão. De noite, com uma tocha, alumiava os tresnoitados – ou impedia que os ébrios, saindo das tabernas dos canais, rolassem à água escura. Como recompensa, recebia ultrajes. Ele replicava com bênçãos.
E nunca como então gozara uma paz tão perfeita. No deserto, os seus rudes labores de enxada e rega, para combater a esterilidade das areias e concorrer para a realização da divina promessa, não lhe davam alegria: – e a fadiga com que deles saía, era inquieta e melancólica. Na oração, que aí perenemente enviava para o Céu, a sua alma não se desafogava, nem por ela obtinha do Céu o dom da apetecida misericórdia: – e havia apenas uma alma mais turva diante de um céu mais mudo. Agora, ao contrário, o cansaço naqueles longos dias de caridade era cheio, era feliz e repassado de doçura: – e a mais curta oração, balbuciada à pressa, fazia descer das alturas sobre o seu coração, como uma longa e vaga carícia