fique pobre também». Onofre, com a voracidade de um avaro, mergulhou as mãos no cofre – e abalou, rindo, deslumbrado, com as pregas do saião pesadas de ouro.
Foi então, por Bubastes, o grande bodo dos miseráveis. Logo à alvorada estava no Mercado, atulhando de provisões, de legumes uma carriola, a que ele se atrelava como um animal, e que arrastava pelos bairros mais pobres, deixando em cada morada o bendito pão de cada dia. Às viúvas dava dinheiro, beijando-lhes a orla da túnica. Vestia todas as crianças. E comprara mesmo um campo, onde andava erguendo um barracão para abrigar todas as velhices e todas as enfermidades.
Não cuidava só dos corpos, mas também das almas – a ponto de empregar três copistas, pobres e que inclinavam para a fé, em preparar cópias das Santas Escrituras, que ele distribuía aos mesteirais à hora da sesta, aos que descansavam sob os plátanos no pátio das Termas, e mesmo aos viandantes que chegavam, com fardos, pela porta Pelúsica. Àqueles a quem saciava a fome, contava sempre, docemente, do Reino de Deus, onde todas as fomes são saciadas: – e aos que nessa cidade de César eram, por condição, os mais ínfimos, afiançava no céu, naquele céu azul e tão sereno que os cobria, uma outra cidade, verdadeira e eterna, a cidade de Deus, onde eles seriam os supremos, e