para viver do seu trabalho, e asperamente censurou a sua humanidade indiscreta. Onofre beijou, chorando, a orla da túnica de Alexandre; – e desde esse dia, não transpôs mais a porta da Assembleia, ficando fora, no terraço, entre os penitentes, com a cabeça sobre as lajes, que ele regava de lágrimas, como na expiação de um sombrio pecado. Por esse tempo, a velha Petronila morreu, e os seus herdeiros, avidamente, invadiram a casa, com escribas do Pretório, que selavam as arcas, arrolavam os bens. Secara a larga fonte de caridade, que através dele refrescara tanta miséria! E os seus Irmãos em Jesus não o amavam! Onofre tinha então setenta anos.
Começou então pela cidade a mendigar para os seus pobres. Pensou mesmo em se vender como escravo – e ser apregoado, no bazar, com a cabeça rapada, um rótulo no peito, e os pés pintados de branco. Mas que valia aquele seu pobre corpo, descarnado e vergado, com as mãos todas trémulas? Cinquenta dracmas? E amarrado a uma servidão, não poderia velar pelos velhos, pelos enfermos, que dependiam da sua caridade. Ele conhecia agora todas as misérias da cidade – e o seu amor crescia cada instante por aqueles miseráveis, que já não podia socorrer, e de quem, um por um, sabia as fomes, as chagas, as dores e a solidão. De noite, aflito, nos terrenos vagos, nas ruínas, para