ao Senhor para repousar. Quando o inverno começou, consideravam mesmo quanto a sua cabana era desabrigada e rude; e o bom mateiro começou todas as manhãs, mal luzia a primeira claridade, a trabalhar nos reparos, pondo colmo novo no teto, tapando fendas, preparando um chão de tabuado, onde mais tarde os pezinhos nus do menino não sentissem a frialdade da terra negra. Depois limpou, areou a horta, que cercou de um silvado, defendendo, isolando mais o seu lar, que ia encerrar um tesouro.
Por vezes a sua companheira queria ajudá-lo nestas tarefas piedosas. Ele não consentia, num receio constante que se fatigasse, viesse mal àquele corpo precioso, que a seu pesar, por vezes, imaginava escolhido por Deus, e que contemplava então com pasmo como um relicário numa capela. Era sempre para ela a malga maior, a fatia mais larga de pão, no desejo de a sentir forte, comunicando força ao seu filho. Procurava por toda a floresta mel silvestre, para misturar ao vinho que ela bebia aquecido à lareira; e como a moleira do moinho senhorial, junto ao rio, assistia na hora dolorosa a todas as servas da castelania, o pobre mateiro não cessava de a servir, de lhe levar sacos de pinha, de lhe rachar a lenha,e mesmo arregaçando as mangas da estamenha, pretendia limpar as rodas da azenha. A boa comadre, cruzando os braços sobre o avental enfarinhado,