do seu coração tão intenso e ardente, que Onofre, por vezes, pensava que poderia, mesmo de longe, e invisível, consolar e dar esperanças, como o Sol, centro de calor, aquece e faz reviver. Quantas vezes ele alargava os braços na solidão, com um desejo desesperado de poder apertar neles, contra o seu seio, todos os que sofrem – e com eles morrer, deixar este mundo impiedoso. Atormentava então o Céu com orações ansiosas. Com os olhos postos nas alturas, a mão estendida como se visse Deus de perto, e lhe falasse, revelava, lembrava a Deus, como a um pai distraído, certas misérias em certas moradas: – e murmurava: «Meu Senhor, Senhor do meu coração, há na Rua das Lojas uma pobre viúva com três filhinhos, sem amparo, sem pão; volta para lá os teus olhos piedosos!» E esperava com os braços estendidos a esmola de Deus – até que os braços lhe caíam cansados, e cansadas lhe caíam as lágrimas.