Ora uma tarde, ao anoitecer, depois d’um dia estéril em que nada recolhera para os pobres, nem achara trabalho, por mais vil, que lhe desse salário, errando assim junto das muralhas, perdido nestas dôres, e a chamar por Deus — ouviu de repente, ao fundo d’uma viela, um pranto dolorido e agudo, como é o dos funerais. Correu, n’uma grande compaixão. A’ porta d’um casebre d’adobe, onde ainda ardia o lume pobre da ceia, estava estirado um homem, com a face escondida n'um panno, e os dous braços nús e moles, cobertos de sangue negro. De joelhos, deante d’elle, uma mulher, esguedelhada, gritava, com longos ais maguados e lentos. Tres creancinhas juntas abriam grandes olhos aterrados. Outras mulheres, dos casebres visinhos, apinhadas em roda, batiam na face, soltando também