Ao declinar da tarde, quando acordou, o velho estava diante dele numa contemplação grave, sentado com as mãos pousadas sobre os joelhos, como uma estátua de escriba. E as duas filhas esperavam, agachadas sobre esteiras de cores, com lentilhas numa malga, e um púcaro de água do Nilo. Onofre comeu e depois ergueu a custo o corpo do leito de folhas, para retomar o caminho do Deserto. Mas, por humildade e exemplo, contou a sua história, a sua penitência, os seus pecados, e como caíra exausto no grande areal, sob a cólera do Senhor.
Então de repente o velho, erguendo as mãos espalmadas, gritou:
– Oh homem cheio de anos e de virtude, tu és daqueles que sabem as palavras novas que consolam! Fica entre nós, come do nosso pão, e ensina as nossas almas.
E Onofre, espantado, soube que, havia tempos, ali tinham vivido dois monges, que todos amavam pela sua caridade, pela sua ciência das ervas que curam, a sua arte em expulsar os demónios, e ainda pelas doces festas com que celebravam o rejuvenescer da Primavera.
Mas um dia tinham partido para um mosteiro, no Alto Egipto – e desde então toda a aldeia os lamentava, e lamentava as doces histórias que contavam do Menino nascido no curral, e de um reino no Céu em que todos comeriam de frutas