casamentos fidalgos de Viseu e de Lamego, receitas de doces ou de unguentos, e histórias de peregrinos que tinham afrontado os mares, e visto o vero túmulo do Senhor Jesus Cristo, ainda tinto do seu sangue fresco.
Estas eram as distracções destes Senhores excelentes. Pelo Natal havia um presépio na capela, com missa cantada pelos frades do convento e uma ceia em que se comia o porco novo. Nos anos de D. Rui, arrombava-se uma pipa de vinho, no campo da tavolagem, e os moços de Gonfalim faziam grandes jogos de bola, e lutas. E não havia naqueles arredores mais alegre fogueira, do que a que se acendia, entre danças e cantos, no terreiro, em frente da ponte levadiça, por noite de S. João.
Assim os anos tinham corrido, no solar de Gonfalim, quietos e iguais, quando D. Tareja sentiu, alvoroçada, em si, um começo de maternidade.
Foi um pasmo, uma magnífica alegria. Longos anos eles tinham desejado, esperado com ardor, um filho; – e para o obter D. Tareja fizera promessas, invocara todos os padroeiros da fecundidade, acendera durante trinta dias trinta velas a Santa Margarida, bebera água de sagna-canina, trouxera muito tempo sobre a cinta uma pele de coelha. Mas a doce esperança não se encarnava; e o bom Senhor D. Rui, resignado, decidira deixar o seu senhorio,