mergulhava muito alto no azul, e não recolhia ao pombal.
Mas não eram só as pombas que amavam o menino. Borboletas raras, de cores radiantes, vinham bater contra os vidros, aos bandos, como folhas vivas e soltas de flores que não há na Terra. Uma amendoeira que havia em baixo, no pátio, rompeu a crescer, a subir, como se, com as pontas das suas ramagens, tentasse espreitar para dentro do aposento: – e depois cobriu-se de flores em Janeiro; e um rouxinol veio, durante todo o Inverno, cantar sobre ela maravilhosamente. Mas a surpresa maior foi que no canto do pátio lajeado, onde se despejara a água em que D. Gil tomara banho, começaram a crescer por entre as lajes umas florinhas azuis, brancas e cor de ouro, que nenhum jardineiro jamais vira, e que perfumavam todo o ar.
No dia em que o menino fez um ano, estando no colo da mãe, com o seu saiotezinho de brocado branco todo bordado de pérolas, escorregou-lhe subitamente dos braços para o soalho, e deu o seu primeiro passo na Vida. Todos os braços em redor se estenderam, ansiosos, para o amparar: – mas ele ia firmando os pezinhos, redondos e lentos, sem tropeçar, atento e direito a uma réstia de sol que entrava pela janela – com a mãozinha aberta e erguida, como amparada por outra mão que