que sabia, porque às vezes lhe dizia: «Um dia vais, e não voltas mais». Ele jurava, muito grave, que passariam a vida juntos, sentados naquela relva, vendo correr a água clara.
As ovelhas brancas pastavam pela encosta. O rafeiro dormia ao lado de Solena, E ela então, prendendo um joelho entre as mãos, os seus claros olhos erguidos para as ramagens quietas, começava a cantar. E era tão doce o cantar, e tão linda a cantiga, que Gil se punha a pensar em cantos que ouvira às aias, quando era pequeno, e em que fadas adoráveis tomam a forma de pastoras, e cantando como Solena cantava, atraem para o alto das serras os cavaleiros que passam. Como ele iria contente, mesmo para a morte, levado por ela! De tão perto, então, mergulhava os seus olhos nos dela, respirava o seu respirar, que o seio pequenino de Solena arfava, sob a dura estamenha. Um enleio, que era cheio de doçura e tristeza, invadia os seus dois corações. Ambos sentiam como vontade de chorar. E por vezes, ambos bruscamente se afastavam, como envergonhados – ele indo bater no pescoço do seu ginete, que escarvava a relva impaciente, ela dando alguns passos, ao longo do riacho, com a sua roca, e fiando, com os dedos tão trémulos, que o fuso lhe caía na relva. Mas bem depressa ele gritava: «Solena!», corria atrás dela, passava o braço em torno da sua cinta, que ele