O rapazito tinha dois dentes partidos, um ombro com a carne rasgada de uma lasca de pedra, e D. Gil lamentou não saber, como todo o cavaleiro deve, a arte de curar as feridas. Fez montar a criança, que desmaiava, à garupa de Gundes, o seu homem de armas que trazia o cavalo mais forte; a carga foi arrumada sobre a mula; e três dos seus solarengos, com Gundes, acompanharam o recoveiro ao solar de Sobres. Depois, quando viu o velho partir, assim bem escoltado, largou a galope para Gonfalim, tão alegre agora, e satisfeito com a vida, que rompeu a cantar.
A noite cerrara, quando a cavalgada chegou à levadiça do solar.
Serviçais esperavam com tochas – e Gil, desmontado, caiu nos braços de D. Rui e de D. Tareja, que, sem saber para onde partira o filho do seu coração, com cavalos e armas, tinham passado dois dias no alto da torre de atalaia, olhando sofregamente os caminhos, tremendo a cada rolo de poeira que ao longe se enovelava, e fazendo ricas promessas a todos os santos do Céu. Mas, quando o viram tão airoso e forte, na sua armadura, nem o repreenderam do terror que lhes dera, embevecidos com o seu belo cavaleiro, que lhes parecia tão belo como S. Miguel armado. D. Tareia passava as mãos com amor na cota brunida. Foi D. Rui que o desembaraçou da rodela e