coberta de plantas secas, dispondo folhas entre as páginas de um in-fólio.
D. Gil amava este douto prático – e gostava de o interrogar sobre os segredos do corpo humano, a sua estrutura, os seus humores, e as influências que o regem. Mas agora, que já não exercia a sua ciência, o bom Porcalho, franzindo as grossas sobrancelhas brancas sobre os olhos cavos e muito luzidios, declarava nada saber, menos que um porco – porque só havia três ciências de curar. Uma, a dos monges, por meio de peregrinações, milagres, e contactos de relíquias, e era esta falsa, porque o ilustre físico árabe Rhazei provara que Deus não se intromete com a saúde das criaturas. A outra, a do Povo, feita toda de feitiços, esconjuros e sortilégios, era ilusória porque vem do Diabo, e o Espírito do Mal não pode promover o bem humano. E a terceira, a verdadeira, a eficaz, essa ainda não chegara a estes remos de Portugal, e estava toda em França, terra de grandes escolas.
No entanto ele, Porcalho, fizera importantes achados! Era incontestável que a pedra de ágata facilitava as dores da maternidade, como ele provara com a Senhora D. Tareja; que a sangria de Março devia ser feita nas veias do peito; e que a hipocondria era produzida por um vento funesto, que vinha da Lua e que inchava o fígado! De resto, descobrira alguns