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dever de mandar o seu filho a França, para se ilustrar no saber. Mas a ideia de o ver partir e ele já tão velho, cortava o seu coração.

Quase desejava que seu filho fosse um moço de espírito simples, contente em caçar, e justar as armas no pátio do seu solar. E nem contou a D. Tareja esta visita ao mosteiro, o conselho penoso que lá fora escutar.

E era então com mágoa que via agora o seu filho cada dia mais devotado aos livros. Tendo começado por estudar a arte dos Simples e das Drogas, como complemento da sua educação de cavaleiro, ele começava agora a amar esse saber, como o fim supremo da vida.

Como um peregrino que percorre um templo, e a quem a beleza ou raridade de uma capela inspira o desejo devoto de percorrer as que além, na sombra, fazem cintilar os seus ouros, este gentil cavaleiro, de cada estreita região do saber em que penetrava, recebia a nobre tentação de invadir outras, que ao longe faziam cintilar a maravilha dos seus segredos.

As secas plantas, com que Mestre Porcalho lhe ensinara a fazer emplastros para curar humores, lhe tinham dado o desejo de conhecer toda a vasta natureza que cobre a terra, e a estrutura dessa terra, onde se escondem os metais e o fogo: a terra, ela mesma, lhe fizera sentir o desejo de conhecer tudo o que a cerca, os ventos que a sacodem, as nuvens que sobre ela